Professor Benê conta sua história vivida no município

Benedito de Lacerda Prado, 67 anos, natural de Macatuba, interior de São Paulo, mais conhecido como professor Benê, chegou no município de Franco da Rocha em 30 de dezembro de 1969. Recém-formado como professor primário, veio pra cidade como o objetivo de dar aulas. Aqui já morava sua irmã, também professora, e um tio que estava na cidade desde 1951, o que tornou sua vinda mais fácil.

Com 40 e poucos anos morando em Franco da Rocha e 30 anos dedicados para educação, Bene, de professor, diretor, dono de comércio e quase um futuro vereador, revela porque escolheu Franco da Rocha para viver.

A cidade vista como antes
Franco era muito pequena, não tinha muitos bairros e nem muitas escolas. Aqui onde fica agora a rua Dr Hamilton Prado antigamente era a rua Barão de Jundiaí, inteira de paralelepípedo. A rua da feira ficava na subida da rua Azevedo Soares, naquela época a escola Isaura de Miranda Botto ficava onde hoje é a sociedade amigos da Bazu. Onde é o Isaura agora era um campo de futebol que tinha um lago atrás, no Jardim União, e o resto tudo era mato. Em volta da estação Baltazar Fidélis (Paradinha) só existia aquela parte, tinha já a Vilinha Aparecida, havia também a chácara da Jabuticabeira que, conforme o nome, era cheia de pé de jabuticaba. No Pouso Alegre era só a parte onde fica a igreja e na Vila Ramos só em volta da igreja, ainda não tinha Parque Vitória e Pretória. Lembro que no Lago Azul você andava sem fim por um terreno todo descampado e acabava chegando apenas num clube. Onde é em frente da escola Domingos Cambiaghi e do Befama, ali no centro, era muito bonito; a rua em cascalho e acompanhando o caminho das pessoas tinha aquelas lindas palmeiras. O hospital Juquery era o cartão de visita com médicos excelentes e atendimento de primeira.

Paixão pela Bocha
A paixão pela bocha surgiu no Bar da Bola Preta. Em 1980 Bene começou a participar de campeonatos intermunicipais e, em 1990, foram disputar o campeonato em Guaratinguetá. Na época teve uma enchente e não tinha campo ou lugar para treinarem, mas, mesmo assim, foram em sete pessoas e saiu medalha de ouro, “primeiro ano que o bocha levou medalha de ouro e passamos como um rolo compressor por cima de todo mundo” brinca Bene. Em 1994 foram para Caieiras e levaram medalha de bronze. Nos abertos, medalha de bronze, única medalha que franco tinha na época, porque não havia muitas modalidades, e nos anos seguintes sempre voltavam com medalhas, seja de prata de bronze ou com o desejado ouro. Neste ano de 2016, nos jogos regionais de Caraguatatuba, a equipe do bocha voltou pra casa com medalha de prata, e Bene ficou chateado. “A medalha estava nas pontas dos dedos, escorregou, mas faz parte, no ano seguinte buscaremos o ouro”. Ri.

Divertimentos na cidade
Antigamente sempre vinha o parque de diversão Shangai e também havia as festas juninas. Mas o que tinha de mais interessante, que muita gente que nasceu em Franco não se lembra, é que todo sábado e domingo, na antiga rua Jundiaí, rua Dr Hamilton Prado, as pessoas ficavam na calçada, que abrangia desde a antiga fábrica de tecido (onde hoje está sendo construído o shopping), até o Cine Marajá. Elas ficavam andando em círculos pela calçada indo e voltando quatro, cinco vezes, batendo papo e paquerando, isso é uma recordação que eu nunca esqueço. Também havia o Cine São João, onde hoje é as lojas Pernambucanas e o Cine Marajá. Quando tinha o filme do Tarzan o cara podia fazer 10 sessões que lotava as 10.
Outro divertimento gostoso era pegar o trem aqui em Franco e ir pra Santos. Você saia de manhã e chegava 10h da noite.

Quando quase entrou na política

“O cavalo passou arreado na sua porta ou você monta nele ou quem estiver na frente vai montar”

Uma das coisas que marcaram o professor Bene foi quando em 1988, na época ele dava aula na escola Arnaldo Guassieri, os pais dos alunos pediram para que ele saísse como candidato a vereador. Uma das mães até garantiu que ele receberia mil votos. Toda essa movimentação popular se dava porque o professor sempre socorria alunos que se machucavam e os levava ao hospital. Seria uma forma de agradecimento pelo favor que nunca foi cobrado. “Os pais me queriam muito bem mesmo e falou que era só eu dar o número do santinho que eles iriam me eleger sem eu gastar um centavo, mas meu irmão também ia sair candidato e me disse que eu ia atrapalhar sua candidatura. Eu argumentei dizendo que nem campanha ia fazer, ia ser apenas o pessoal da Vila (Lanfranchi), mas pra não entrar em pé de guerra com meu irmão desisti e fui conversar com os pais. Expliquei a minha situação, mas eles queriam que eu saísse candidato, se não fosse eu, seria uma pessoa de dentro da Vila. Parece mentira mas esta pessoa foi eleita por eles três vezes: o Manuel de Brotas, famoso pelo bordão “E aí meu patrão”. Ele foi o vereador mais votado com seiscentos e poucos votos, e se eu tivesse saído teria sido eleito. Fiquei mais chateado porque com apenas dois meses de campanha meu irmão desistiu. Foi uma oportunidade em que eu tive e que devo muito pro pessoal da Vila Lanfranchi”. E brinca: “Quem sabe de vereador poderia ter sido prefeito”.

Franco-rochense por amor
“Hoje eu me considero mais franco-rochense do que natural da minha cidade, Macatuba. Pelo tempo que estou aqui, há quarenta e tantos anos, você forma um laço de amizades que não tem como desfazer. Hoje eu vou para a minha cidade e não conheço mais ninguém. Aqui conheci minha esposa, e criei meus três filhos, graças a Deus tudo que consegui foi aqui e vou dizer uma coisa: Vai ser difícil eu sair desta cidade!

Franco hoje
Franco da Rocha é uma cidade que abraça a todos, que acolhe pessoas de muitos lugares. Em todas as escolas em que passei as pessoas falam que estão sentindo a minha falta. É bom quando você ouve isso, é sinal que fez um bom trabalho e que conseguiu atender a população do bairro, e claro o apoio que tive dos pais foi importantíssimo e ainda é, os pais têm sim que participar ativamente na educação das crianças nas escolas faz total diferença. A minha missão na educação foi cumprida e tenho bons frutos colhidos.

HISTÓRICO PROFISSIONAL
1969. Chegando na cidade, Benedito lembra que no primeiro momento teve que ir para São Paulo, na diretoria de ensino que na época ficava na praça da Sé porque na região não havia ainda uma como temos hoje na cidade de Caieiras. Ele foi escolher uma sala para dar aula, acabou ficando com uma sala de emergência no bairro do Mato Dentro. Para chegar até a escola o único meio de transporte era a charrete. O professor conta que levou uma hora e meia pra ir e uma hora e meia pra voltar e chegou marrom de terra. Em tom humorado fala; “Fui pra conhecer a escola e ficou só pra conhecer mesmo, não havia condições, eu teria que sair de casa às 5h para chegar na escola às 7h, fora que era um poeirão só’’. Isso foi numa sexta-feira e na segunda-feira seguinte ele decidiu voltar para o interior. Quando foi se despedir do amigo Paulo, que também era amigo de seu tio, o mesmo lhe fez a proposta para que Benê trabalhasse com ele no banco, de imediato Benê achou a ideia absurda, pois era professor recém-formado e queria atuar na área, mas devido as circunstâncias, em vez de voltar para o interior o professor acaba aceitando a proposta.

1973. O professor Benê trabalhou até julho de 1973 na agência do banco Itaú, na Lapa, quando pediu transferência para a agência de Franco da Rocha como tesoureiro.

1976. Foi promovido chefe de seção indo para o Rio Grande do Sul montar uma agência como subgerente, porém ficou por apenas seis meses porque percebeu que aquilo não era o que queria pra vida e então volta pra São Paulo.
De volta para Franco da Rocha, ele saiu do banco e montou um depósito de bebidas na rua Barão de Mauá. O estabelecimento permaneceu aberto por apenas um ano, quando a caldeira da fábrica que fornecia cerveja estourou e encerraram o fornecimento.

1977. Sua irmã informa que há aulas sobrando na E.E Isaura de Miranda Botto, Vila Bazu. Ele resolve pegar aulas.

1980. Benê sai do Isaura e começa a dar aula na escola EMEB Nilza Dias Mathias permanecendo por três meses. No mesmo ano foi dar aula na EMEB Teresa Barquetta, permanecendo por um ano.

1981. Foi dar aulas na EMEB Jose Seixas Vieira, na Vila Santa Rosa, onde conseguiu reformar o prédio. Fez mais duas salas de aula (havia apenas uma), um banheiro e secretaria. De manhã funcionava 3° e 4° ano e de tarde 1° e 2° ano.

1984. Foi efetivado como professor na EMEB Arnaldo Guassieri, Vila Lanfranchi, onde ficava alternando as aulas num período na Vila Santa Rosa e no outro no Arnaldo. Depois sua carga completa de aulas ficou somente na escola Arnaldo Guassieri.

1987. Começou a fazer complementação da faculdade em pedagogia para pegar direção de escola, fez dois anos de curso e ficou três meses como vice designado no Arnaldo. Em 1989 pediu remoção para a escola Isaura.

1991. Entrou no Isaura como professor e ficou até março, quando conseguiu pegar a vice direção da escola. Em outubro o então diretor se aposentou e Benê assume como diretor, ficando até julho de 1998.

1998. Foi para a E.E. Jocimara Vieira da Silva, na Vila Bela. Em 2000 a escola foi municipalizada, porém Benê permaneceu na direção. Em 2004 a escola voltou pro estado e o diretor ficou até 2005 quando tirou licença prêmio. Tentou aposentar, porém, o dirigente da secretaria de educação pediu para que ele montasse a escola no Vila Eliza, um projeto do governo em período integral. Hoje a escola se chama E.E. Professora Ivone dos Anjos da Silva Campos, mas na época era Vila dos Comerciários.

2008. Em 1 de julho se aposenta e começa a cuidar da papelaria na rua Dr Hamilton Prado.

Por: Paloma Cristina


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