Mulher, negra e da periferia, Chai, do Odisseia das Flores conta sobre os preconceitos encontrados na vida e a superação por meio da música
Do RAP, Chai, como é conhecida no meio, faz rimas representando sua história e a de mais duas amigas, a Jô Maloupas, e a Letícia Arruda, que formam o Grupo Odisseia das Flores, juntamente com o DJ Dog, responsável por comandar as batidas. De sorriso fácil, negra, da periferia, ela já enfrentou diversas situações no dia a dia que várias outras mulheres também sofreram e ainda sofrem, mas nem por isso baixou a cabeça e decidiu mandar sua resposta por meio da música.
Com 29 anos e uma personalidade marcante, Chai é casada e mora no Jardim Cruzeiro. Ela expressou a visão que os homens ainda têm das mulheres na sociedade. “O machismo infelizmente ainda impera. Aprendemos um monte de coisas erradas que diz que a mulher não pode fazer isso ou aquilo. A mulher no RAP então, o pessoal olha torto e infelizmente esse estilo de música ainda não é bem-vindo em alguns lugares. Mas, para mim, ser mulher é principalmente ter a liberdade de fazer o que eu quiser, independente do gênero”.
A rapper falou sobre a dificuldade de entrar no mundo da música e ressaltou que existe um preconceito quanto às mulheres nesse meio. “Continua um movimento predominante com os homens. As minas começaram a tomar conta, mas ainda sinto que temos menos espaços do que deveríamos ter. Na arte, na música, você pode ver que o espaço disponibilizado é mais para os homens”, sinalizou.
Ainda sobre o preconceito, ela mandou um recado do que acontece na atualidade. “O nosso sentimento é que poderíamos ser incluídas em alguns espaços, mas não somos. E é nessa que ficamos com um ponto de interrogação, o porque ainda existe essa invisibilidade da mulher em vários seguimentos. Será que a gente não entra em vários lugares porque o rostinho da Odisseia das Flores não é tão bonito assim, não é o rostinho padronizado que muitos queriam”, questionou.
Mesmo com as barreiras impostas pela sociedade, o grupo continua na caminhada em busca de um espaço maior para mostrar o talento. “Se não tem espaço a gente chega e faz o nosso espaço, se junta com vários coletivos de periferia que têm pensamentos iguais os nossos. Esse lance de ser mulher preta e ser mulher da periferia, parece que não, mas ainda pesa”.
Chai acredita que além do preconceito, as mulheres não conseguem conquistar alguns espaços, pois não se unem e ficam disputando entre si, em vez de ajudar umas as outras.
Com quase uma década na estrada, a cantora disse que já viu muitas mulheres talentosas desistirem do meio musical por causa do machismo dentro da própria família. “Pararam de cantar porque se tornaram mães, porque não possuem o apoio do marido, pois a vida de músico te faz ficar longe de casa vários finais de semana, chegar tarde. O marido, principalmente quando não é da música, não entende isso. Nesse caso já vem o machismo imperando, pois é difícil do cara aceitar, mas se é o contrário, acontece uma aceitação”.
Por uma questão de igualdade, Chai deixou claro que quer sair na rua que nem o homem sai e ser respeitada independente da roupa que estiver usando. “A mulher pode estar toda coberta que vai ser violada verbalmente na rua. Os abusos no transporte público estão aí para provar isso”.
Na maioria das músicas, o grupo fala sobre a mulher na sociedade e, em um trecho de uma rima na canção Sem Curva na Ideia, mandam um recado às mulheres sobre valores. “Falamos de postura e não do tamanho do seu shorts”.
Filha de um Capoeirista e uma artesã, a franco-rochense faz um trabalho social com os integrantes da Fundação Casa desde 2012. “Inspiro os moleques a escrever, fazer arte. Planto a sementinha para fazer que cada um acredite no potencial que tem”.
Chai mandou um recado especial para todas as mulheres, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. “Se ame e seja a prioridade na sua vida. A partir do momento que você se sente bem com você isso é transmitido para as outras pessoas”.
(Texto: Ewerton Geniseli – Foto: Divulgação – Lima Fotografia)
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