Entre pessoas e personagens, a arte propagava-se na apresentação do grupo os Crespos

Quem passou pelo Parque Municipal Benedito Bueno de Morais, no último domingo (4), teve a direção do seu olhar tomada pelo espetáculo “Alguma coisa a ver com uma missão”, da companhia Os crespos, um grupo brasileiro de teatro, formado exclusivamente por atores negros.

A atividade foi promovida pelo programa de incentivo à cultura do Governo do Estado em parceria com a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer.

Logo no início da noite, os tambores já ecoavam pelo parque, com as fortes batidas e cenas que tratavam da transformação social antirracista e os levantes realizados pelos negros, inspiradas na dramaturgia do livro “Lembrança de uma revolução: a missão”, de Heiner Muller.

Os fortes assuntos, foram contados por duas personagens protagonistas que viajavam no tempo em um sonho, uma auxiliar de enfermagem e uma gari.

A pista de caminhada se tornou um verdadeiro palco a céu aberto, que foi explorado pelos artistas, quando eles realizavam paradas no parque. Um verdadeiro passeio místico. As centenas de pessoas ficaram empolgadas ao ver os detalhes da peça espalhados em vários pontos do local.

Com direito a intervenções e instrumentos durante toda a peça, os espectadores puderam acompanhar o quanto os negros estiveram sempre lutando e realizando formas de manifestação nos momentos históricos, e que nem sempre eram por meio de fugas.

Cuidadosamente pensados

Os personagens foram estudados pelos atores, para que em cada detalhe eles trouxessem marcas para o público. Como por exemplo a gari, que em determinado momento da peça retrata sobre a greve de coletores de lixo, no Rio de Janeiro, em 2014.

Um dos figurinos que mais chamavam atenção, era de um negro que lutava pelo seu povo, arrancando os sapatos dos barões como uma forma de protesto. Atuando, o personagem comentou sobre o motivo da sua ação. “Somos considerados coisas, e coisas não podem usar coisas”, afirmava ao carregar em seu traje muitos sapatos pendurados.

Momentos marcantes

Em seguida, ao som dos vissungos, que são músicas tradicionais da escravidão africana, o grupo conduziu a história por uma barqueira dos mortos – uma referência à mitologia da Umbanda – que a todo momento buscava um levante para liberdade.

No meio do espetáculo, os franco-rochenses foram surpreendidos com uma cena do alto de uma árvore. Era um garoto com uma vara de pesca, capturando histórias nesse oceano. Ao ver essa etapa, os espectadores ficaram com a mensagem de que tudo que estava sendo tratado na peça, eles faziam parte, pois somos nós cidadãos o oceano de momentos e marcas.

Um show com letras profundas sobre o preconceito racial e a escravidão, parecia encerrar a peça, pois as intervenções usadas, como fogo e luzes, foram especialmente pensados para fechar com chave de ouro o evento. Mas, um barco cheio de inspirações e peças, vinha em direção aos personagens e o público.

Com uma bandeira que era notável, encerrava a apresentação e firmava um pedido por respeito diante das marcas deixadas. Todos aplaudiram o espetáculo, que foi finalizado com a frase “Não seremos mandados”.

Não acaba quando as luzes se apagam

O grupo deu a oportunidade de interação com o público sobre o que eles apresentaram, realizando um debate, para esclarecer dúvidas e buscar desconstruir os pensamentos preconceituosos.

(Texto e Fotos: Gabriella Oliveira)


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