Apresentação do espetáculo de dança “Ô Saudade…” emociona plateia no Centro Cultural

Quantos sentimentos cabem em uma mala? A esperança de quem parte em busca de dias melhores? Ou a dor de quem fica à espera de notícia de quem se foi. Essa é a premissa do espetáculo de dança “Ô Saudade…”, que narra a migração do povo nordestino em direção às grandes cidades do país. Veja fotos

Encenado pela Rumos Cia Experimental, o espetáculo aconteceu no domingo (10), no Centro Cultural Newton Gomes de Sá como parte da programação do Festival de Inverno 2019.

Contemplado pelo Edital de Fomento à Cultura de Franco da Rocha, viabilizado pelo ProAC Municípios, o projeto foi idealizado a partir de uma pesquisa bibliográfica baseada no livro “Um nordeste em São Paulo”, de Paulo Fontes. Em seu texto, Fontes fala a respeito da migração iniciada e estimulada a partir de 1930 no Brasil, que trouxe milhares de pessoas para a capital.

Em seguida, a companhia deparou-se com o depoimento de Roberto Farias, nordestino residente em São Paulo há mais de 30 anos que relata suas lembranças de um almoço com a família em sua terra natal.

A partir daí foi desenvolvido o projeto coreográfico da apresentação que manifesta por meio dos movimentos corporais as cenas, sons, sabores, aromas e sentimentos, como o que carrega o nome da montagem: a saudade.

A construção de um novo lar

Responsáveis direto pelo crescimento de cidades como São Paulo, as pessoas que saíam do Nordeste nesse período encontravam uma local em plena transformação, onde os ares de cidade grande adquiriam forma com a força do trabalho do povo nordestino, que aos poucos, conquistava um novo lar.

Mesmo com trabalho e família constituídos na grande metrópole, os migrantes jamais esquecem de suas raízes. Por isso, a coreografia elaborada pela companhia relembra com extrema delicadeza a música, a dança e o ritmo marcante do Nordeste, traços que ao longo dos anos foram incorporados à cultura da região central e metropolitana de São Paulo.

E em Franco da Rocha não seria diferente, o município, que também recebeu um fluxo grande de nordestinos, teve sua identidade profundamente marcada pela riqueza cultural deste povo.

Esse é o caso de Cintia Cavalcante, que saiu da Paraíba para morar em Franco há nove anos. “É incrível como essa apresentação desperta mesmo esse sentimento em nós. Depois de tantos anos fora da minha cidade, da minha terrinha, a gente acaba vivendo meio no automático e hoje bateu uma nostalgia muito forte”, contou.

Edson Burgo, diretor do espetáculo, falou um pouco sobre o método de criação da coreografia do grupo. “No processo do “Ô Saudade…” nós tivemos estudos de teatro, tanto que a apresentação tem algumas falas, por isso chamamos de dança-teatro. É um trabalho difícil para o bailarino, mas nós encaramos esse desafio para trazer um momento real, vivo, para acessar a plateia e fazê-los sentir o que interpretamos em cena”, explicou.

Triste capítulo que permeia a trajetória do povo nordestino, a fome e a seca também são interpretados em cena como obstáculos a serem superados até a chegada ao local de destino. Esse caminho carrega os medos, anseios, o cansaço, a saudade da família, de casa, da mãe que um dia se despediu sem saber se algum dia veria seu filho novamente.

Maria de Fátima assistia atenta a todos os movimentos criados pelos bailarinos. Ela revela que achou a apresentação belíssima. “Eu mergulhei na cena da mala, vi meu pai carregando as coisas dele quando saiu de casa há muitos anos e depois vi a mim e a minha mãe vindo atrás dele porque acreditávamos que aqui seria melhor, e de certa forma foi”.

(Texto e foto: Luana Nascimento)